Sobre a postura frente ao cenário
- lourenobudke1
- 10 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Tanto as estratégias de mitigação quanto de transferência exigem proatividade.
Assim, para garantir a produtividade esperada e reduzir a probabilidade e os efeitos de eventos climáticos adversos (mitigação) o produtor observa o ZARC, acompanha a evolução tecnológica e planeja cada safra com antecedência, inclusive para aproveitar os melhores momentos do mercado para a compra dos insumos e a venda dos produtos.
Da mesma forma, para transferir os efeitos econômico-financeiros negativos do clima e do mercado para outros agentes é preciso acompanhar o mercado e contratar o Seguro Agrícola, o Proagro e operações nos mercados futuros e de opções antes que os eventos adversos aconteçam!
Ou seja, é até fácil concordar que nenhuma seguradora vai querer contratar o seguro depois de havido o sinistro na lavoura, depois da perda causada por uma seca ou uma chuva de granizo, por exemplo. Também não é difícil imaginar que nenhum agente de mercado vai comprar o produto a um preço superior ao de mercado, mesmo que estivesse mais elevado anteriormente.
Mas, então, por que é tão difícil ao produtor tomar a decisão de contratar a proteção, seja de preço ou de produção, no momento adequado?
Entendo que seja devido à postura do produtor (e de outros agentes) frente ao cenário.
Vou tentar começar a explicar com uma pergunta: qual a expectativa do produtor quando vai assistir uma palestra sobre previsão de clima ou de comportamento de preços no mercado?
Me arrisco a dizer que, de forma geral, o produtor “quer ouvir” e sai satisfeito se o climatologista disser que as chuvas serão boas para a lavoura e o analista de mercado projetar elevação dos preços do produto. Isso é uma tendência natural do ser humano. Ninguém gosta de maus presságios!
Se não ouvir isso vai duvidar, achar em si mesmo razões para justificar, também para os vizinhos, a sua posição especulativa! Sim. Pelo simples fato de plantar o agricultor assume uma posição especulativa: está “comprado” (no mercado) e suscetível aos riscos do clima, pois a agricultura é uma “fábrica a céu aberto”.
Já demonstrei, em outro artigo, que o ser humano toma suas decisões baseadas no sentimento, e a razão serve apenas para “construir justificativas para a consolidação interna e convencimento de terceiros a respeito da validade de suas ideias e ações”.
Dito em outros termos, o produtor acompanha cenários para tentar adivinhar o futuro (e manter, assim, a sua aposta), quando deveria fazê-lo com objetivo de definir suas metas de resultado e orientar a estratégia de proteção.
A meta é sempre produtividade e preço máximos. Mas é preciso considerar que só vai haver certeza de que o preço chegou ao máximo quando já estiver caindo! Ou seja, sem metas (definidas em função do cenário), não será possível ver o cavalo ao passar encilhado!
Sobre o clima é a mesma coisa: quando tiver certeza da intempérie não haverá mais oferta do seguro!
Se considerarmos que o cenário é de mudança climática, fica ainda mais importante que não só o produtor mas, especialmente, os agroclimatologistas e vendedores de seguro, destaquem as incertezas (e a necessidade cada vez maior de proteção) em vez de tentar “adivinhar/cravar o futuro” (para poder, quem sabe, depois, satisfazer o ego e dizer: tá vendo, eu falei!).
A respeito do cenário, de imprevisibilidade, deixo a imagem das anomalias de precipitação previstas e realizadas no período de outubro/23 a janeiro/24, conforme dados do Inmet, e uma pergunta para reflexão: qual a validade dos nossos modelos de previsão baseados em dados históricos, considerando que estamos em tempos de mudanças climáticas?
Que abordagem interessante, Loureno.
Com as mudanças climáicas (e até sem elas) torna-se ainda mais necessário incorporar o custo do seguro ao custo de produção.